Quem sou eu e o porquê deste blog




Se tive alguma certeza na vida, essa foi a de que seria humorista.

Também, a primeira coisa que eu ouvi, logo ao nascer, foi uma piada.

Chegou o médico-obstetra e falou, todo contente, ao me ver vindo à luz:

- Bem-vindo ao Piauí!

Apesar de recém-nascido gargalhei. De nervoso.

Vocês podem imaginar como foi difícil minha infância.

Todo mundo se recorda de um bola, uma boneca, um trenzinho dos seus primeiros dias.

Eu me lembro das minhas assaduras: vermelhas, gigantes, coçando loucamente.

Naturalmente, como a maioria das crianças, cheguei a ter um cachorrinho de estimação.

Só que, numa manhã ensolarada, fui pra escola e esqueci o Bidu no quintal.

Ao voltar, ele estava sequinho: tinha virado um charque de seis quilos e meio.

Claro, comemos o Bidu no jantar.

Dura a infância no Meio-Norte.

Dura e seca feito rapadura.

Mesmo as histórias infantis ali são diferentes.

Dá pra falar de bicho-papão num lugar onde a refeição principal – quando existe – é farinha de mandioca?

- Aí veio o bicho-papão - magrinho, esquelético, tremendo de fome - e falou que ia levar o menino desobediente pra…

O Piauí é tão quente, mas tão quente, que passarinho, quando voa, usa uma das asas pra se abanar.

É um tal de tico-tico se espatifando em pára-brisa de automóvel, bem-te-vi batendo com a cara em vitrine de loja.

O tempo todo um filme “Os Pássaros”, de Hitchcock.

Talvez por isso eu só tenha visto um pombo de verdade em São Paulo.

Um pombão gordo, numa quentura daquelas, acaba falecendo. Não decola com uma asa só nem que a vaca tussa.

E, por falar em vaca, outra coisa curiosa: nessa época, vaca no Piauí só dava leite em pó. Misturava-se direto na água, nem precisava esquentar, já saía das tetas fervendo.

Outra surreal.

A tentativa que fizeram de criar camelos na caatinga não deu certo porque os camelos morreram de desidratação.

Apesar dessa estiagem toda, minha família – que era dada a empreender negócios inovadores - conseguiu ganhar um dinheirinho e abriu um negócio: uma fábrica de água mineral.

Investiram toda a grana nos vasilhames, nas tampinhas, no gás. Mas, quando partiram pro engarrafamento se tocaram de que não existia matéria-prima na região.

No desespero, começaram a importar água do Rio de Janeiro. Mas aí uma garrafa da mineral ficou do preço de uma de vinho.

Era o começo da falência.

Transtornado, um dos meus tios ainda tentou abrir um negócio alternativo: uma sauna.

Mas se alguém quiser fazer sauna no Piauí basta ficar nu.

Se preferir a úmida, é ficar cuspindo em cima da calçada que sobe vapor na hora.

Como o maior produto de exportação do Piauí é a própria população, fomos enviados para São Paulo.

Num contêiner.

Bom, ao menos viemos de primeira classe, sentados em cima das redes de tucum.

As mangas e os doces de buriti viajaram na parte de trás.

Nascia assim o primeiro homem-gabiru do humor brasileiro.

E, consequentemente, esse blog.

Comentários

  1. Chorei de rir da história da fábrica de água mineral. De fato não foi uma idéia muito brilhante...hahahahahahahahahahaha...Amei o blog!bjs

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  2. AGORA SIM ! COM ESSE TEXTO DE APRESENTAÇÃO, DISSE A QUE VEIO ! BEM VINDO !!!! ABRAÇÃO !

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  3. "... Com seu blog Carlos Castelo acaba de colocar o Piauí na era da web 2.0. Tem tuíter e tudo (...)" Editorial do jornal "Diário do Norte, 07/08/09

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