Somos todos "off"



Umas das mais acalentadas discussões da pós-modernidade é a questão do que é “off” e do que “on”.

Ser “on” aparentemente é mais “in” atualmente. Ser “off” é, em determinadas condições, meio “out”.

As empresas “on” são mais valorizadas que as “off”e a imagem de suas marcas tem mais valor agregado junto aos públicos consumidores.

A pergunta que poucos se fazem, no entanto, é muito importante para ficar de fora dessa celeuma: afinal, o ser humano é “off” ou é “on-line”?

Porque, dependendo de qual for a sua real configuração, toda a comunicação estaria fadada a repensar-se no curto prazo.

Há controvérsias, mas, do meu ponto-de-vista, não há nada mais “off-line” do que um Homo sapiens.

Senão, vejamos.

Você já viu um cara falando com outro num ponto de ônibus no modo “bluetooth”?

Os homens tergiversam sobre o futebol da quarta-feira ou sobre o traseiro da mulher que passa diante deles. Mas tudo isso trabalhando no velho modo “off-line”.

Não me recordo também de alguém pedindo para ser plugado numa entrada USB com urgência.

E nem da conexão de algum conhecido meu ter caído momentâneamente proporcionando-lhe perda de todo conteúdo cerebral.

No mundo dos humanos acontece algo parecido, mas chama-se acidente vascular cerebral. E a prova de que não é algo do universo “on” é que, para recuperar a memória perdida, a pessoa é submetida à cirurgia, medicamentos, fisioterapia e não necessariamente a um “reboot”.

Outra evidência clara de que não somos “on-line” é a nossa indisponibilidade de acesso imediato e ao vivo a quem quiser nos procurar.

Pode-se até estar num dia mais disponível aos outros e, se convocado por eles, prontamente responder ao telefone ou à campainha.

Mas tente exigir o modo “on-line” de alguém quando este está num dia de constipação intestinal, no banheiro de casa acompanhado de um jornal. A conexão será totalmente impossível.

Um outro ponto polêmico é o das conexões. Há quem defenda que o Homem seria “on” porque pode unir-se a outros de sua espécie durante o ato sexual. Aconteceria, nesses momentos, uma forma de comunicação em tempo real.

Em meu modo de entender, esse tipo de ligação não faz do ser humano um representante do gênero “on”.

Primeiro, porque o número de conexões possíveis não passaria do pequeno número de orifícios que uma pessoa tem em seu corpo. E, para ser considerada uma ação “em linha” virtual, a suruba deveria ser infinitamente maior, do tamanho do Google, por exemplo.

Depois porque fica muito estranho sistematizar algo tão tecnológico tendo por base uma trepada, exames proctológicos, papa nicolau ou mesmo o toque prostático.

Isso não seria metodologia científica, mas desespero de causa e fraude intelectual.

Por todas as evidências aqui mencionadas, penso que, de fato, pude demonstrar que somos mais de 6 bilhões de “hard-disks” desconectados vagando por um planeta que gira em torno do Sol.

Mas isso até o Steve Jobs inventar o “i-man”.

Comentários

  1. Belo, sempre no seu estilo inconfundível.
    Adorei.

    ResponderExcluir
  2. Acredito que o homem criou o "ON" para poder ter cada vez mais direito e tempo de ser OFF. É o super complexo e tecnológico permitindo que o simples e humano se perpetue...Parabéns!!

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas