O último brasileiro honesto

   (Foto: Ethan Weil)
O Brasil está mergulhado numa das maiores crises político-econômicas de sua História contemporânea. A inflação voltou, os juros são os mais escorchantes do planeta, políticos, policiais, juízes e empresários estão envolvidos em falcatruas. E o povo pede nas ruas o impeachment da presidenta da República.
Contudo, ainda há uma esperança: Brasílio da Silva, o último cidadão honesto do país.
Brasílio é filho de Honestina e Justo da Silva e nasceu em Brasília no dia 1º de janeiro de 1958. Dizem que veio ao mundo nesta data para já poder trabalhar de modo virtuoso desde o primeiro dia do ano.
Quando completou dois anos, Brasílio demonstrou suas primeiras inclinações à probidade. Foi à uma loja de brinquedos e um palhaço ofereceu-lhe um pirulito. No ato devolveu-o para que não se configurasse coação à aquisição de produtos do estabelecimento.
Mais tarde, quando estava na oitava série, ficou conhecido por ser o único aluno que não colava, nem passava cola. Em função disto todo dia apanhava de colegas bem maiores que ele. Era sovado com frequência, mas nunca reagiu ou delatou ninguém.
Fez faculdade de Contabilidade à época do general Geisel. Por não ser nem de direita, nem de esquerda – defendia o que cada uma tinha de melhor – sofreu bullying durante quatro longos anos. Mas manteve-se no prumo, sempre fiel a seus princípios de retidão.
Depois de se formar passou em primeiro lugar num concurso para estagiário da Petrobras. Ficou apenas uma semana no cargo. Solicitou exoneração por achar que o salário era muito alto para uma função tão subalterna.
Dali foi para a iniciativa privada. Trabalhou alguns meses como contador-júnior da Odebrecht, mas, já naquela época, discordou de alguns procedimentos no balanço da empresa e demitiu-se.
Voltou novamente à esfera pública, dessa vez tentando o Itamaraty. Foi aprovado mais uma vez com louvor e recebeu como prêmio o cargo de secretário da embaixada brasileira no Vaticano. Um mês depois estava de volta ao Distrito Federal. Amigos de seu círculo mais íntimo afirmam que ele desistiu da chancelaria por ter achado o papa João Paulo II mal intencionado.
Sua última atuação no funcionalismo foi como corregedor de funcionários lotados no setor de impressão de cédulas da Casa da Moeda. Durante sua gestão de 15 anos nunca houve um caso de prevaricação ou falsificação de dinheiro.
Hoje Brasílio da Silva está de licença médica. Teve um esgotamento nervoso ao saber que sua declaração de renda caíra na malha fina. Recorreu, mas ainda está em análise na Receita Federal.
No Brasil é assim: quem paga de honesto, paga o pato.
(Estadão, 17/03/16)

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