O iluminado
Fosse qual fosse o tema era impossível competir com Romualdo.
- Meu filho nasceu – alguém disse uma vez.
- Onde? – perguntou Romualdo.
- No Albert Einstein – respondeu o outro.
- O meu nasceu no Monte Sinai, de Nova Iorque. Sempre quis o melhor pro meu filho.
Tudo o que o Romualdo fazia ou tinha era mais interessante, espetacular ou inusitado.
Carro:
- Comprei uma Ferrari.
Romualdo entrava com tudo:
- Carro pra mim é Lamborghini Diablo. Quer dar uma voltinha na minha?
Mulher:
- Tô saindo com a Naomi Campbell!
- E, quando vocês dois não estão juntos, ela fica comigo – cortava Romualdo, com a superioridade de sempre.
Romualdo também peitava qualquer um no mundo das artes e cultura. Não havia tema sobre o qual ele não tivesse algo mais contundente a revelar.
Dizem que certa vez enfrentou os três maiores sabichões do país: Décio, Haroldo e Augusto - juntos. Discutiram de passagens literárias da Bíblia até a poesia de Ezra Pound, passando pela vida de Safo. E Romualdo narrou trechos inteiros que até o trio sabe-tudo desconhecia.
No meio de acalorada discussão estético-intelectual, Romualdo ainda soltou essa:
- E, olha: James Joyce era bicha. Tenho uma carta dele pra um marinheiro irlandês guardadinha no meu cofre.
Romualdo também era íntimo do “grand-monde” internacional: Bono Vox, Obama, Príncipe William, Leonardo Di Caprio. Se alguém pagava de amigo de celebridade, lá vinha ele:
- É, mas você não passa a mão na bunda do Jack Nicholson…
Um dia Romualdo morreu.
Rapaz, que morte!
Foi atravessar a Avenida Foch, a mais elegante de Paris, e grudou os sapatos italianos num chiclete suíço. Veio uma carreta inglesa carregando um míssil norte-americano e o atropelou.
Depois de perder o controle, o gigantesco caminhão explodiu metade da rede elétrica da cidade.
Nunca se viu um falecimento daqueles. A Cidade-Luz ficou 48 horas completamente às escuras. A data virou até feriado nacional: o “Le Romualdô”, dias depois da “Fête du Travail”.
O enterro então foi imbatível.
A celebração ficou a cargo de um papa, um pai-de-santo, um pastor evangélico, um rabino e o Dalai Lama no cemitério Père Lachaise – o mais, mais do mundo.
Madonna cantou a música favorita de Romualdo enquanto o caixão, com design Pininfarina, descia seguro por cordas folheadas a ouro.
A cova ficava ao lado da de Jim Morrison, mas a de Romualdo tinha vista para a Rive Gauche.
Durante o velório alguém disse:
- Deus que se cuide. Já, já o Romualdo passa Ele pra trás.
Castelo, você é indecentemente demais. Merda prá você. Mas cuidado com a psicografia do Romualdo. Rsrsrsrsrsrs. Abs, Sergio Mesquita.
ResponderExcluirValeu, Serjão. A psicografia do Romualdo só poderia ser feito de Chico Xavier ou Zé Arigó pra cima. E a mesa branca teria que ser francesa do século XVIII. Abração.
ResponderExcluirHahaha...sensacional. Como sempre, aliás!
ResponderExcluirMuito bom, arrasou, o que não é novidade, né? Valeu!
ResponderExcluirMarcie, obrigado por aparecer aqui sempre e comentar. Dorcila, valeu também e não suma do twitter, viu? Bjos.
ResponderExcluirhahahahah Excelente, Castelo. Ah... psicografei o Romualdo e ele te mandou um recado: Estou providenciando uma crônica melhor! Beijos da Tia
ResponderExcluirOi Catelo! Adoro este conto e anos atrás já havia compartilhado com amigos. Hoje relembrei do Romualdo, ao ver a notícia da senhora de 75 anos que deixou parte da Georgia e a Armênia toda sem internet. Seria tia do Romualdo??? ahahah
ResponderExcluirProcurei o conto, achei teu blog. Sensacional!
abraço para você.
Cris Ratier