Noite Dourada na Vila Madá



Meu filho me convidou pra ir numa balada.

Tentei dissuadi-lo argumentando que, tiozão em festa de menino, fica mais deslocado que freira em cerimônia do Miss Playmate.

Mas o garoto insistiu. E filho é filho.

A última vez que pisei numa pantomima assim foi num show do Rick Wakeman, no Ginásio da Portuguesa. Depois desse show, só em Londres, surgiram umas 37 tendências musicais (e o Keith Richards foi internado pelo menos 15 vezes pra desintoxicação).

O furdunço estava previsto pra ter início à uma da matina.

Botei a única peça fashion do meu guarda-roupa (uma jaqueta de couro antiga, à la James Dean) e na entrada da casa noturna (uma mistura de caverna do Batman com a casa da Barbie), pedi vodca gelada.

- Mandou bem, velhão… – disse uma garota que abraçava o meu filho.

Durante a segunda dose fui apresentando a um outro amigo deles.

- Aê...Heroína… – foi falando e sacudindo minha mão o moleque, que parecia ter uma avenca gigante em cima do cocoruto.

- Obrigado, vou de álcool – respondi.

- Não, pai – disse meu filho ao ouvido – Heroína é o apelido dele...

Entornei o copo e entrei na pista.

O som bateu forte no diafragma. A repetição mecânica de timbres, a vodca, sei lá, me levou a um estado hipnótico. Fiquei ali, balançando ao sabor da reverberação que vinha das caixas de som.

Foi quando uma ninfeta – minissaia, Smirnoff Ice pela metade nas mãos - se postou à minha frente e passou a balançar junto - braços parecendo com os daqueles bonecões de ar que ficam em porta de posto.

Ela me olhava e balbuciava:

- ...illy!...illy!

O barulho era gigantesco, achei que fosse um novo grito de guerra. Foi quando ela resolveu ser mais direta. Veio à minha orelha e rosnou:

- Fala, Lourinho!

Conversar ali era como bater um papo no meio de um tufão no Chile.

Chamei-a pra fora.

Acendi um cigarro na calçada.

Quando a garota me olhou, foi esbugalhando os olhos, e gritando:

- Cara, cê me enganou. Não creio!

Continuei fumando, sem entender nada. Ela então berrou:

- Você não é rockabilly. Nem louro!!

E voltou correndo pra pista.

Mais tarde, reparei que a luz estroboscópica deixava meu cabelo grisalho inteirinho dourado. Pois é, todo mundo tem sua noite de Supla.

Comentários

  1. É, logo logo é a minha filha que vai me convidar pra balada. Quero só ver...

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  2. Muito bom o texto... me fez relembrar uma ótima fase da vida...

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