Proverbiando



Não foi por falta de aviso. Ele cansou de ouvir: o que nunca se começa, nunca se acaba.

Ficar aí feito pedra que muito rola, sem criar bolor, não vai levar a lugar nenhum.

Por outro lado, ponderava: o que tem de ser, não precisa empurrar. Ninguém é feito peixe, bicho besta, que morre pela boca.

Nada disso. Pelo andar dos bois se conhece o peso da carroça.

Não é o pica-pau que nem machado tem e come as abelhas?

Pois então?

Perdido por mil, perdido por mil e quinhentos.

O negócio é que raposa cai o cabelo mas não deixa de comer as galinhas. Rabo de saia é sempre precípio para os homens. Pra ele então, tudo que vinha na rede era peixe.
Desconhecia que o bonito é absurdo.

E, desconsiderando que feijão é esteio da casa, fez a cama pra outra deitar.

No fim, quem pariu Mateus que o embale.
Quando a cabeça não regula, o corpo padece.

A sorte foi que o diabo quando tem fome come moscas.

E ajuda os seus. É como ele costumava repetir: “ah, meu amigo, preferível ser sapão de pocinho que sapinho de poção....Vá dar no boi que tem couro grosso! Que velhaco não engana velhaco”.

Sabia muito bem que faca na barriga dos outros não dói. Assim como formiga quando cria asa quer se perder.

Com tudo isso em mente, ainda insistiu em seguir adiante para beber água limpa. Galo de sangue no olho e na crista não dá com o bico no chão.

E foi indo. Cansado de ser peru de fora, que toma tabaco e vai embora.

A sorte é que guardado está o bocado pra quem o há de comer. Ainda bem que pra tudo Deus dá jeito.

Foi daí que prorrompeu o aguaceiro. Chuva muita, como não se via desde o tempo da monarquia. Chuva com sol, casamento de espanhol; sol com chuva, casamento de viúva. Todo tipo de dilúvio.

Mas ele não temeu: é no atoleiro que se conhece o cavaleiro.

Estava mesmo sempre às vésperas de coisa nenhuma, nada a perder.

Quem está na chuva não é pra se molhar?

Tinha aprendido na vida que honra é de Deus, não é do homem. Do homem é a coragem.

Acontece que boi sonso, marrada certa.

Bem com Deus, bem com o Diabo.

Saiu da chuva e retornou, em cima das pegadas, para casa.

O cavalo procura sempre voltar à querência.

Pois quem tem cu tem medo.

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