Sinval e Heleno em: layoutando o mundo



- Sinval, tive uma ideia de negócio muito show, mas precisava muito que você entrasse comigo nessa. Fosse meu sócio…

- Lá vem ele com o papo de “plano b”…

- Eu concordo com você, já tive umas viagens sobre novos empreendimentos que foram demais da conta. Mas essa, tô te falando, é superoriginal.

- Não é como aquela de fazer uma igreja, né? Como era o nome mesmo?

- “Do it Yourself Church”.

- Isso mesmo! Tinha um kit na parada, se não me engano…

- É, você comprava o kit da igreja num site e montava um grande rebanho virtual de seguidores em menos de uma semana. Tipo um twitter, só que espiritual.

- E por que não rolou?

- Porque tinha uns botõezinhos no site onde o internauta podia escolher a religião mais apropriada pro kit dele. Só que aí uns hackers sionistas tentaram sabotar o botão dos muçulmanos. E aí uns xiitas acabaram explodindo a plataforma inteira.

- E agora você bolou outro empreendimento fantástico?

- Na verdade é uma ONG. Com possibilidade de virar uma OSCIP gigante em breve.

- Joga na mesa então…

- Seria o “Diretores de Arte Sem Fronteiras”, uma entidade que ajudaria a layoutar melhor o mundo.

- Layoutar melhor o mundo? Meu, que maluco!

- É, cara, olha o potencial de uma coisa dessas. Os “Médicos Sem Fronteiras” não ajudam os países quando tem uma guerra, uma epidemia ou catástrofe? O “Diretores de Arte Sem Fronteiras” seguiriam a mesma linha, só que no plano visual, estético mesmo, percebe?

- Não, ainda não peguei o teu gancho.

- Presta atenção, Sinval. A China é um país cheio da bufunfa, mas tem lugar lá que é feio pra caramba, não tem? A mesma coisa aqueles países árabes, com os sheiks montados nos petrodólares, mas numa tremenda paisagem bizarra. E mesmo aqui, em São Paulo, tem dinheiro, mas não tem elegância. Pensa: iria uma galera de diretores de arte pra esses lugares aí e re-layoutariam os picos todos.

- Pode ser legal mesmo, Heleno, mas por que diretores de arte e não arquitetos?

- Porque os arquitetos, naquela masturbação deles, iam demorar um tempão pra melhorar os lugares. O diretor de arte só no roughzinho ali, na canetinha, resolveria muito mais rápido e barato do que esses “oscar niemeyer” aí.

- Tá bom, você já tá quase me convencendo. Só fiquei em dúvida numa coisinha.

- Qual?

- Se a ONG é a “Diretores de Arte Sem Fronteiras” por que você, que é redator, vai presidir o negócio?

- Ué, porque alguém tem que escrever as defesas criativas, né? Imagina o trampo que a gente vai ter pra convencer os vereadores de São Paulo a layoutar a Estátua do Borba Gato!

(Publicada na Revista Propaganda #707)

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